Como decidir o que fazer agora, o que fazer depois e o que não fazer.

“Não é que tenhamos pouco espaço de tempo, mas desperdiçamos grande parte dele. A vida é suficientemente longa e foi dada em medida suficientemente generosa para permitir a realização das maiores coisas, se toda ela for bem investida. Mas quando é desperdiçada em luxo e descuido, quando é dedicada a nenhum fim bom, forçada finalmente pela necessidade última, percebemos que ela passou antes que tivéssemos consciência de que estava passando. Não é curto o tempo, mas nós o fazemos sim, nem nos falta, mas o desperdiçamos”, Seneca

 

A CONSCIÊNCIA TEMPORAL PARA O GESTOR DE PRODUTOS

Considere o seguinte exemplo. Se você precisa pagar uma conta de R$ 1000,00 hoje. A multa para pagamento amanhã é de 10%. Você consegue visualizar qual o custo do atraso, que aqui seria de R$ 100,00.

O custo do atraso descreve as perdas econômicas, faturamentos adiados ou outros prejuízos que ocorrem como resultado de um projeto ou entrega que é adiado. É algo óbvio, você diria para mim.

Mas poucos gestores de produto consideram o custo do atraso como uma moeda ativa dentro do seu mecanismo de seleção e construção de produtos.

Vou te trazer outro exemplo. Consideremos quatro produtos com diferentes custos semanais de atraso e tempos estimados de desenvolvimento. Como Product Owner, você enfrenta o desafio de priorizar quatro produtos importantes em seu backlog.

  • Produto A (Melhorias no Portal): Custo de atraso semanal de R$2.000, Tempo de Desenvolvimento de 2 semanas
  • Produto B (Melhorias no App): Custo de atraso semanal de R$4.000, Tempo de Desenvolvimento de 8 semanas
  • Produto C (Integração com Novo Canal de Vendas): Custo de atraso semanal R$7.000, Tempo de desenvolvimento de 12 semanas
  • Produto D (Integração com Algoritmo de IA de Análise de Crédito): Custo de atraso semanal de R$4.000, Tempo de Desenvolvimento de 5 semanas

Assumindo que você somente consegue realizar um projeto por vez, qual seria a ordem apropriada para você?

Na maior parte das empresas que transito, essa escolha é feita por vontade política, sentimentos ou apenas julgamento emocional. Mas um gestor de produto quer gerar valor. Sempre! E ele pode usar técnicas mais avançadas para saber o que fazer primeiro.

 

PRÁTICA: COD3

Podemos usar uma heurística aqui chamada de Custo de Atraso Dividido pela Duração (CD3). Priorizaremos os projetos com base nesses valores. A ordem de entrega será determinada após o cálculo do CD3 para cada produto.

Prática CD3 — Fonte: Autor

Interpretamos essa tabela da seguinte forma:

  • Produto A tem o maior CD3, indicando que por semana de atraso, este produto tem o maior custo relativo.
  • Os Produtos B e C têm CD3 mais baixos, significando que seus custos de atraso por semana são menores em relação à sua duração.
  • Produto D tem um CD3 mais alto que o B e C, mas inferior ao A.

A ordem de construção dos produtos seria A, D, C e finalmente o projeto B.

Aqui estão os resultados das análises baseadas em Valor e em CD3, incluindo os custos mensais do atraso (não acumulados) e o custo total acumulado para cada abordagem.

O custo do atraso mensal é mostrado abaixo:

Custo do Atraso — Fonte: Autor

Durante o Mês 1, todos os projetos ainda estão pendentes, resultando em um custo de atraso de R$ 15.000. Nos Meses 2, 3 e 4, o custo de atraso diminui gradualmente à medida que os projetos são concluídos na ordem determinada pelo CD3. Nos Meses 5 e 6, o custo de atraso é reduzido ainda mais, pois os projetos restantes estão em desenvolvimento ou concluídos. O custo total do atraso aqui é R$ 58.000,00.

Agora vem a parte interessante. Se você tivesse priorizado baseado puramente no valor, ignorando a variável tempo você escolheria construir os projetos na ordem C, B, D e A. E isso geraria um custo total de atraso de R$ 77.000,00, mais de 30% acima da primeira heurística.

Sem descer muito na matemática aqui, a mensagem para você é simples e direta. Um bom Gestor de Produto pode usar o conceito do custo do atraso para melhorar os retornos econômicos de uma organização.

PRÁTICA: TRIAGEM COM CLASSES DE SERVIÇOS

Uma abordagem mais simples do que fazer cálculos econômicos é usar o conceito de classes de serviço, que representam modelos padronizados de custos de atraso.

  • Classe Urgente — O custo de atraso aumenta muito ao longo do tempo. Metaforicamente, alguém está sangrando até morrer.
  • Classe de Data Fixa — O custo de atraso é pequeno agora e começar a aumentar muito à medida que a data alvo se aproxima.
  • Classe Padrão — O custo de atraso cresce linearmente ao longo do tempo
  • Classe Intangível — O custo de atraso é pequeno durante um longo tempo, mas pode crescer em um futuro mais distante.

Podemos desenvolver políticas que nos ajudem a classificar demandas com base em seu nível de risco e atribui-las nas classes corretas.

PRÁTICA: TABELAS DE TRIAGEM

Uma técnica mais sofisticada mas que foi codificada dentro um aplicativo chamado Menta Triage[1] é chamada de tabela de triagem. Ela irá te guiar dentro de um conjunto de perguntas ligadas a curva de aquisição de valorúltimo momento responsável e outros conceitos que te apresentei aqui nesse artigo. A tabela de triagem irá gerar como saída qual a classe de serviço que deve ser atribuída a sua demanda na data de hoje.

Tabela de Triagem — Fonte: http://kmm.plus

[1] https://www.mauvisoft.com/menta-triage-ds-application/

Artigo originalmente publicado por Marco Mendes em seu blog no Medium.

Sumário

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